VENTILAÇÃO NATURAL VERSUS CONFORTO ACÚSTICO
- Fernando Simon Westphal
- 15 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil e professor da UFSC
Sempre que comento sobre o projeto das fachadas em pele de vidro dos edifícios corporativos que receberam certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) ouço críticas sobre o fato de suas janelas não abrirem. Isso causa muito espanto ao público que não é da área da construção e mesmo a arquitetos e engenheiros, mas que não atuam nesse tipo de projeto. Afinal, como pode um prédio sem ventilação natural recebe uma certificação ambiental?
Bom, precisamos dividir esta análise em dois aspectos: a certificação e a viabilidade da ventilação natural nesses edifícios.
A certificação Leed utiliza como norma de eficiência energética a Ashrae Standard 90.1 e como norma de qualidade do ar a Ahsrae Standard 62.1. Ambas são normas norte-americanas, mas adotadas no Brasil como referência na elaboração do método de etiquetagem de edificações, o PBE-Edifica do Procel/Inmetro e da norma ABNT NBR 16401 — Instalações de ar-condicionado - Sistemas centrais e unitários.
Esses textos incentivam a ventilação natural como estratégia para conforto térmico, economia de energia e qualidade do ar. Não é um pré-requisito para a certificação que o prédio tenha ventilação natural. Ele pode ser suprido por ventilação mecânica, desde que com alta qualidade e eficiência energética. O mesmo vale para a ventilação natural. É necessário garantir a vazão de ar em quantidade e qualidade adequadas durante a ocupação do prédio.
No caso de edifícios corporativos com grandes lajes, é tecnicamente inviável garantir bom suprimento de ar por ventilação natural em todo o pavimento. Nós temos maior tolerância a variação da ventilação em nossas residências e pequenos escritórios, onde é mais fácil agir sobre a abertura e fechamento das janelas. Mas em grandes ambientes e com alta taxa de ocupação, esse controle sobre as esquadrias é mais complexo.
Talvez o maior problema ainda a ser contornado para promover a ventilação natural nos grandes centros urbanos é o controle do ruído. Onde passa ar, passa ruído. E esse tem sido um dos desafios da indústria de esquadrias nos últimos anos: como promover boa ventilação natural em climas quentes e boa atenuação sonora?
Existem algumas estratégias, mas ainda não adotadas em larga escala, como os defletores acústicos, os ressonadores, as fachadas duplas e as janelas plenum. Dentre esses, a janela plenum me parece a solução de maior eficácia de ventilação e melhor custo-benefício. Trata-se de uma janela dupla, com 2 folhas de correr cada (a janela interna pode ser com folhas de giro de eixo vertical), em que as aberturas são feitas de forma que fiquem desalinhadas, desencontradas. Isso cria um caminho maior para o fluxo de ar percorrer e a atenuação sonora se dá pelo amortecimento ao longo desse caminho.
Eu conduzi uma pesquisa de mestrado recentemente na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde monitoramos o desempenho da ventilação e atenuação sonora de um protótipo de janela plenum. Encontramos uma atenuação de até 8 dB na faixa de frequência dos 1000 Hz com a janela promovendo boa ventilação com 40 cm de abertura. Isso comparado à janela totalmente aberta. Foi um estudo preliminar, uma investigação inicial para identificar o potencial da solução. Mas identificamos que é uma estratégia promissora para promover o conforto térmico e acústico com baixo consumo de energia em ambientes de pouca profundidade. Mas ainda não consigo enxergar esse tipo de solução no edifício corporativo dos grandes centros urbanos. Para esses casos, a fachada dupla aparece como uma solução tecnicamente exequível, porém com o custo ainda injustificável, pois são necessárias duas fachadas. Nessa conta, fechar as janelas e ligar o ar-condicionado – de alta eficiência! – ainda é a solução mais viável.
Para quem quiser saber mais sobre nossa pesquisa sobre a janela plenum, a dissertação é intitulada: “Estudo de isolamento sonoro e de ventilação de uma janela acústica ventilada”. Foi desenvolvida pela aluna Emiliana Rodrigues Costa, sob minha orientação, e pode ser acessada através do link:

*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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