A bombeira Larissa dos Santos esclarece quais medidas de segurança devem ser adotadas quanto à proximidade das esquadrias e orienta sobre como os ocupantes precisam agir nestas situações
*Por Stephanie Fazio
Chamas, fumaça e explosões são sinais de alerta para incêndios. As causas são variadas, mas são em grande maioria acidentais, provocadas por condições ou atos inseguros, sendo possíveis de serem evitadas. A inspeção rotineira, o treinamento de colaboradores e a atenção para as causas mais comuns podem prevenir este incidente, segundo o portal Sistema Eso.
Os hidrantes, detectores de fumaça, sprinklers, alarmes de incêndio, iluminações de emergência e as portas corta-fogo se mostram fundamentais para a evacuação e combate às chamas no local.
Para entender os cuidados a serem adotados com as esquadrias e fachadas durante incêndios, a Revista CONTRAMARCO entrevistou Larissa Moana Miranda dos Santos, coordenadora do Projeto Bombeiro Xerife Mirim, instrutora no curso de formação de bombeiro civil pela escola e faculdade Sidy, socorrista e aluna em formação no Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (CBVJ) e credenciada ao corpo de bombeiros militar de Santa Catarina.
REVISTA CONTRAMARCO - Quanto tempo, em média, as fachadas de alvenaria e vidro resistem a um incêndio?
Larissa dos Santos - O concreto é pouco resistente ao fogo, de qualquer maneira estruturas de concreto são calculadas para resistir até quatro horas, após este período, há quebra de cristais de cimento, fazendo com que ele venha a deteriorar-se, causando grandes e pequenas rachaduras.
Os vidros antichamas e corta-fogo têm a função de garantir a segurança dentro de edificações atingidas por incêndios. Para resistir 60 minutos contra o fogo, precisamos de um vidro duplo, para ter 120 minutos, será preciso pelo menos um vidro quádruplo. O vidro corta-fogo se destaca também pela sua capacidade de reter a temperatura, além das chamas.
REVISTA CONTRAMARCO - No momento da ação para combate às chamas, quais cuidados são necessários com as fachadas e esquadrias? Quais medidas de segurança devem ser adotadas em relação à proximidade das janelas pelas pessoas que ainda ocupam o local?
Larissa dos Santos - Para Khoury, no livro Building Type Basics for Office Buildings (2002), a fachada-cortina é um sistema de esquadrias estruturado e contínuo, o qual se difere da vedação externa tradicional: janela e alvenaria. Seus principais requisitos são:
a) proteger a estrutura da ação do vento;
b) separar o ar circulante do interior das condições externas.
Os pontos a e b, segundo Khoury, são essenciais na função das fachadas e esquadrias, contudo a fixação da estrutura de esquadrias de alumínio na supraestrutura do edifício gera frestas entre ambas, proporcionando a propagação de fogo e fumaça, havendo o rompimento do vidro durante o incêndio, pois ele tende a deformar em altas temperaturas e pode não resistir ao aumento de pressão, acarretando a entrada de ar externo no ambiente em chamas, proporcionando, assim, a realimentação do incêndio.
A parte externa do vidro também deve ser resistente ao fogo, segundo o artigo Curtain Wall Firestop Review of Code Requirement and Design Issues (2012), escrito por Frankie Victor e K. M. Gary Chen, esse modo de propagação é lento, pois, estando intacta a separação entre pavimentos consecutivos, o incêndio somente alcançará o andar superior quando ambos os vidros dos pavimentos forem rompidos pelas chamas, as quais se deslocam pela parte externa da fachada sofrendo perdas substanciais de calor.
Segundo a Norma NBR 10821-1 — Esquadrias para edificações Parte 1: Esquadrias internas e externas — Terminologia, a fachada-cortina é composta por esquadrias interligadas e estruturadas com função de vedação que formam um sistema contínuo, desenvolvendo-se no sentido da altura e/ou largura da fachada da edificação, sem interrupção, por pelo menos dois pavimentos. Em caso de incêndio, a equipe do corpo de bombeiros irá atuar da melhor forma possível e levando em consideração a estrutura do local da ocorrência.
As medidas de segurança devem ser adotadas de acordo com o plano de emergência da brigada de incêndio, sendo assim, não é para ter pessoas próximas às janelas, tendo em vista que há saídas de emergência e protocolos a serem seguidos, salvo as exceções (casos isolados). Estratégia de evacuação é obrigação e responsabilidade da brigada, se houver uma situação com saída obstruída e pessoas presas em uma sala com janelas, cabe ao corpo de bombeiros pensar na melhor estratégia para a retirada dessas pessoas. Vale ressaltar que 3/4 das mortes em incêndios são ocasionadas pela inalação de fumaça e 57% dos mortos não se encontravam no ambiente onde se originou o incêndio.
REVISTA CONTRAMARCO - Conforme a Instrução Técnica (IT 1) — Procedimentos Administrativos - 2019, é facultativa a apresentação da planta de fachada, porém, os detalhes de proteção estrutural, compartimentação vertical e escadas devem ser apresentados em planta de corte. Comente sobre a importância destes elementos na planta.
Larissa dos Santos - Como bombeira no exercício da minha profissão, é fundamental que haja a planta para executar o melhor plano de emergência em casos de incêndio. Minha função é prestar serviços de primeiros socorros, prevenção e segurança contra incêndio e pânico em plantas e/ou edificações privadas ou públicas, com dedicação exclusiva às atribuições inerentes à sua função.
REVISTA CONTRAMARCO - Em caso de incêndio, explique a durabilidade e exposição de cada material e as principais dimensões das portas corta-fogo. Comente sobre a NBR 11742 relativa às portas corta-fogo.
Larissa dos Santos - A NBR 11742, que regulamenta o uso, fabricação e instalação de portas corta-fogo no Brasil, foi atualizada em agosto de 2018, ela especifica os requisitos exigíveis para a porta corta-fogo em saídas de emergências do tipo de abrir, com eixo vertical.
Dimensões da porta corta-fogo: é obrigatório que tenham largura e altura mínima de 80 cm e 2,10 m, respectivamente. Devem respeitar também o tamanho máximo, que deve ter 2,2 m de largura e 2,3 m de altura. Quando a largura da porta ultrapassar 1,2 m, deverá obrigatoriamente possuir duas folhas com largura igual.
É difícil dizer a durabilidade de cada material exposto em caso de incêndio, se o fogo correr em área ocupada por pessoas, há grandes chances de que seja descoberto no início e a situação resolvida, mas se ocorrer quando a edificação estiver deserta e fechada, o fogo continuará crescendo até ganhar grandes proporções, essa situação pode ser controlada com a aplicação dos procedimentos básicos de ventilação.
Materiais sólidos (classe A) queimam fácil e as chamas são alimentadas com mais materiais sólidos e podem ser combatidas com água; já os materiais inflamáveis, queimam somente em sua superfície não deixando resíduos (classe B), como a gasolina, por exemplo, e pode ser combatido com pó químico; incêndios ocasionados por materiais elétricos energizados (classe C), devem ser combatidos com o CO2, podendo também ser combatido com pó químico. Além deste, temos a (classe D), causados pela queima de substâncias pirofosfóricas, como fogos de artifício; e a (classe K), fogo em óleos e gorduras em cozinhas, que não são comuns em edifícios.
REVISTA CONTRAMARCO - Quais são as principais recomendações que os ocupantes de um local devem adotar em caso de incêndios? Cite a utilização da porta corta-fogo, proximidade com vidros, etc.
Larissa dos Santos - Primeiro, deve-se manter a calma, seguir a orientação da brigada de incêndio e evacuar o local o mais rápido possível, não fazendo uso de elevadores e sempre descendo as escadas pelo lado direito do corrimão e obedecendo às placas de sinalização, fechando a porta corta-fogo.
A porta corta-fogo é um equipamento fundamental para a prevenção e combate a incêndios em prédios residenciais e comerciais, sendo obrigatória em locais de grande circulação de pessoas. Ela serve como uma barreira, impedindo ou retardando a propagação de chamas e fumaça para a rota de fuga.
REVISTA CONTRAMARCO - Comente um caso de resgate, durante um incêndio, que foi possível através das janelas.
Larissa dos Santos - Não tenho experiência pessoal nesse resgate em específico, no entanto, somos treinados para fazer resgates em diversas situações, cada caso é um caso. Sendo assim, o bombeiro irá adentrar, se houver a confirmação de vítimas no local, a inalação da fumaça leva a vítima a ficar inconsciente em poucos minutos, então o trabalho em conjunto da corporação é imprescindível.
REVISTA CONTRAMARCO - Acrescente outras informações que considerar relevantes e que não tenham sido abordadas nas questões acima.
Larissa dos Santos - É importante que em todo estabelecimento com um fluxo muito grande de pessoas tenha uma equipe de brigada de incêndio qualificada e altamente capacitada, que revise conceitos e estratégias para possíveis sinistros, fazendo assim a proteção do patrimônio e das pessoas. Vale ressaltar que investir na capacitação destes profissionais pode evitar que um patrimônio com valor muito alto seja destruído em questão de segundos. Vistorias são necessárias para correções, a fim de garantir a segurança do patrimônio e das pessoas ali existentes.
Há muita omissão por parte de empresários e empresas quanto a solicitação de melhorias apontadas pela brigada. Em Santa Catarina, o bombeiro civil/brigadista particular deve ser credenciado ao bombeiro militar para exercer sua função, contudo, encontramos muitas irregularidades e descasos por parte deles e a função de prevenção do bombeiro brigadista/particular só passa a ter visibilidade, infelizmente, quando ocorre uma tragédia, como por exemplo, a da Boate Kiss, em 2013, na cidade de Santa Maria (RS).
Por fim, para uma boa prevenção de patrimônio e das pessoas, é necessário que o profissional da área seja ouvido e valorizado por seus superiores no âmbito de solicitação de melhorias para o estabelecimento, a fim de evitar possíveis acidentes.
Fontes: Sistema Eso, Building Type Basics for Office Buildings e Curtain Wall Firestop Review of Code Requirement and Design Issues
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