QUAL A IMPORTÂNCIA DOS ENSAIOS TÉCNICOS EM ESQUADRIAS E FACHADAS?
- Equipe Contramarco
- 10 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
“É melhor, e mais barato, ‘errar’ no laboratório, do que descobrir falhas na assistência técnica pós-venda”, diz Michele Gleice, engenheira civil e diretora técnica do Itec
*Por Emanuelle Ormiga, sob supervisão da profissional habilitada Stephanie Fazio

As esquadrias e fachadas de uma edificação tem um papel fundamental para o conforto e segurança dos habitantes, uma vez que estes elementos interagem diretamente com as intempéries. Por isso, é fundamental que haja uma boa vedação e estanqueidade para que os ocupantes tenham uma experiência agradável e conveniente, bem como a garantia da segurança do usuário durante a vida útil do produto.
Para atestar que a solução de fechamento de vãos atenda aos requisitos necessários, é fundamental que sejam observadas as especificações determinadas, por exemplo, pela norma ABNT NBR 10821-2:2017 – Esquadrias Externas - Requisitos e Classificação, que garante o desempenho e a segurança adequados para as esquadrias instaladas na edificação.
“Ter produtos que foram projetados e calculados para resistirem a determinadas cargas e que foram ensaiados, garante o conforto e a segurança. Afinal, ninguém quer uma esquadria em que a folha possa se desprender quando ocorrer uma rajada de vento, ou ainda que a sala ou quarto fiquem molhados após uma chuva, porque a esquadria não conteve a entrada de água, ou seja, não foi estanque”, afirma Michele Gleice, engenheira civil e diretora técnica do Instituto Tecnológico da Construção Civil (Itec).
Segundo a engenheira, os principais riscos para os fabricantes e construtoras em utilizar esquadrias que não atendem aos requisitos normativos é assistência técnica para solução de problemas e, em alguns casos, responder a processos judiciais. “É cada vez mais comum que o usuário que se sinta prejudicado ou lesado pelo desempenho da sua esquadria acione os responsáveis judicialmente e, neste caso, comprovar que se utilizou esquadrias em conformidade com as normas vigentes, será muito importante.”
A norma ABNT NBR 10821-2:2017 apresenta os seguintes ensaios:
Permeabilidade ao ar
É o ensaio que avalia qual o volume de ar que passa pela esquadria, ou seja, se houver problemas de vedação, por exemplo, ocorrerá uma grande passagem de ar, que pode tanto causar desconforto térmico para os usuários quanto poderá prejudicar o desempenho de sistemas de condicionamento de ar, fazendo com que se gaste mais energia para manter a temperatura do ambiente.
Estanqueidade à água
É o ensaio que simula a chuva em conjunto com vento, através da pressurização da câmara de ensaio. Neste ensaio é possível verificar se a esquadria é estanque, ou seja, que não infiltra água na face interna da edificação, seja através de borbulhos ou escorrimento de água pela esquadria.
Resistências às cargas uniformemente distribuídas
Simulando as rajadas de vento, é avaliada a resistência da esquadria e dos seus componentes, incluindo o vidro. Uma esquadria exposta às rajadas de vento deve manter-se íntegra, ou seja, não pode ter seus perfis deformados em excesso, ou ainda desprender alguma parte ou ocorrer a quebra do vidro.
Resistência às operações de manuseio
São ensaios que simulam as condições de uso normais das folhas móveis, como por exemplo, abertura e fechamento. Os testes são mecânicos e a norma NBR 10821-2:2017 especifica os ensaios conforme a tipologia da esquadria (correr, maxim-ar, giro, etc.)
Manutenção da segurança durante os ensaios de resistência às operações de manuseio
Assim como os de manuseio, estes ensaios simulam as condições de uso das esquadrias, porém quando submetidas a cargas excepcionais, como por exemplo, uma pessoa que se apoia em uma folha móvel ou que implica uma força adicional para fechar uma folha maxim-ar. As esquadrias, mesmo quando submetidas a essas cargas, devem manter-se íntegras, sem desprendimento, para que não ocasionem acidentes. Tal como resistência às operações de manuseio, também são ensaios mecânicos e há ensaios específicos para cada tipologia de esquadria (correr, maxim-ar, giro, etc.)

“Os ensaios em laboratório permitem que fabricantes e sistemistas possam avaliar o desempenho dos seus produtos e mesmo quando o resultado não é tão satisfatório de início, podem perceber a importância do ensaio, de compreender como os produtos se comportam e que, muitas vezes, pequenos ajustes no projeto e/ou produção podem melhorar o desempenho”, comenta Michele.
Além disso, a diretora técnica ressalta que resultados que não atendem os requisitos normativos devem ser vistos como aprendizado, pois são estes que vão fomentar os estudos e pesquisas para outras soluções. “É melhor, e mais barato, ‘errar’ no laboratório, do que descobrir eventuais falhas na assistência técnica pós-venda, após receber reclamação do seu cliente ou em uma ação judicial.”
DIFERENÇA ENTRE CERTIFICAÇÃO E REALIZAÇÃO DE ENSAIOS
Michele explica que os ensaios em produtos enviados ao laboratório, seja pelo fabricante, construtora ou consumidor, que originam relatórios de ensaios, demonstram se aquela “amostra”, com suas características específicas de projeto, montagem e instalação, atende ou não aos requisitos normativos da norma vigente, mas este ensaio não “certifica” um produto ou linha.
Já a certificação, diz que é um processo no qual uma entidade independente (3ª parte), acreditada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), avalia se determinado produto/linha atende às normas técnicas. Esta avaliação se baseia em auditorias no processo produtivo, onde o auditor visita a empresa fabricante para avaliar como é feito todo o controle da fabricação, desde a compra dos insumos até a entrega do produto para o consumidor.
A engenheira afirma que, durante a auditoria, é realizada a coleta aleatória de amostras do estoque, as quais serão encaminhadas para ensaios laboratoriais. “O resultado satisfatório destes ensaios e da auditoria é que levarão à concessão da certificação”, explica.
“Os ensaios são a parte fundamental de um processo de certificação e podem e devem ser utilizados para desenvolvimento/melhoria de produtos, mas isoladamente, não concedem certificação”, informa Michele.
Além disso, comenta que tanto a certificação quanto o ensaio de uma amostra permite que o fabricante, a construtora e o cliente final verifiquem que a esquadria instalada atende os requisitos de desempenho. Ou seja, apresentará estanqueidade ao ar e à água, resistirá à ação do vento e às ações de manuseio normais de uma esquadria.
ESTANQUEIDADE À ÁGUA
Por fim, a diretora técnica afirma que para a estanqueidade à água foi recém-publicada a parte sete da NBR 10821 — “Esquadrias para Edificações – Método de estanqueidade à água em esquadrias externas instaladas”.
“Os ensaios de estanqueidade na obra são complementares aos de laboratório e não podem substituí-los, pois, é de suma importância conhecer o desempenho das esquadrias antes da instalação, verificar se atende às necessidades específicas de cada obra, mas é uma excelente ferramenta para avaliar o desempenho de uma esquadria ou fachada instalada quanto à estanqueidade à água”, finaliza Michele.
Fonte: Itec Lab
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