*Por Marcus Granadeiro, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP; sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia; membro do RICS - Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e do Autodesk Development Network (ADN); e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
A digitalização de ativos por meio de scanners a laser não é novidade. Inicialmente mais aplicada na área industrial, a ideia vem ganhando espaço no mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), em função de novos equipamentos e da sua integração com processos BIM (Modelagem de Informação da Construção). A novidade nesse segmento é o surgimento de equipamentos de escaneamento autônomos, que conseguem navegar pelos ativos, gerar a nuvem de pontos, transmiti-la para o servidor e disponibilizar os arquivos prontos para o uso pelas aplicações.
Os primeiros scanners se chamavam “estacionários”. Com base em um tripé, os equipamentos faziam o levantamento de uma área criando uma cena. Em seguida, o operador posicionava o aparelho em um outro local, gerando uma segunda ação e assim por diante. Já no escritório, era realizada a união dessas cenas, atividade que era chamada de registro.
Na sequência, surgiram os scanners cinemáticos. Com uma tecnologia mais avançada, esses equipamentos realizam o levantamento em movimento. O aparelho pode ser carregado por um operador ou mesmo transportado por um carrinho, por exemplo. Dessa forma, a nuvem de pontos fica pronta sem a necessidade de fazer um registro.
Outra novidade são os mesmos scanners cinemáticos, mas associados a drones e robôs, como é o caso do Spot, da Boston Dynamics. Além de dispensar o operador para a atividade de levantamento, esses equipamentos usam os dados coletados, como input (usado para criar controles interativos para formulários baseados na web para receber dados do usuário), para auxiliar seu próprio caminho. Atualmente é a tecnologia mais avançada existente em termos de integração de Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (disciplina da área da IA que, por meio de algoritmos, dá aos computadores a capacidade de identificar padrões em dados massivos e fazer previsões) na digitalização de ativos.
Vale lembrar que esses aparelhos ainda são recentes, por isso, poucos projetos e empresas os possuem no Brasil, porém seu potencial de disrupção é enorme. Além disso, diversas aplicações estão surgindo, como a comparação dos modelos BIM para controle de qualidade e avanço de obra, os cálculos automáticos de volume para automatizar as medições e até mesmo as aplicações focadas na fase operacional, que apoiam e economizam muito em vistorias e fiscalizações.
A grande vantagem da nuvem é ter a digitalização tridimensional completa, com a precisão demandada pela engenharia e contar com versões que permitem criar uma máquina do tempo. A qualquer momento é possível selecionar o levantamento feito em determinada data. Além disso, com a automação todos serão rigorosamente iguais em termos de posição física e navegarão pelo ativo na data selecionada.
O mais interessante é que neste ponto passamos a ter sinergia com outras tecnologias e tendências que também vêm se destacando, como é o caso do metaverso. Podemos dizer que estes equipamentos são o primeiro passo para ampliarmos as representações da realidade em um sistema virtual. Ademais, haverá a possibilidade de deixarmos de ter modelos e passarmos a ter o mundo real representado inteiramente em um ambiente digital.
Pensando em engenharia, é algo que pode ter muito valor. Imagine que daqui a 50 anos, ao projetar um retrofit, os futuros arquitetos conseguirão entrar no metaverso do edifício exatamente no dia que ele foi inaugurado. Como serão as vistorias de seguros e avaliações prediais? Os impactos, causados pelas novidades tecnológicas de fato acontecerão de forma disruptiva por toda a cadeia de valor.
Fonte: Construtivo/Image Comunicação
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