*Por Felipe Lima Engenheiro civil, professor e consultor em patologia das construções e fundador da Adpat Brasil
A Patologia das Construções é uma disciplina que, embora esteja se tornando cada vez mais conhecida entre estudantes e profissionais, não é nova. Muitos profissionais podem passar anos sem ter contato com o tema e, para alguns, essa disciplina sequer fez parte do currículo na graduação.
Ao estudarmos a história, encontramos inúmeros relatos de profissionais enfrentando problemas construtivos. A preocupação com a qualidade da construção e o diagnóstico de problemas já era evidente no Código de Hamurabi, do século 18 a.C. Esse código, uma compilação de 282 leis, inclui seis leis (228 a 233), que tratam das consequências de falhas construtivas, o que exigia uma análise e diagnóstico para que se pudesse emitir um veredicto.
Mais recentemente, em 1986, a publicação do Boletim Técnico 06 da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, elaborado pelo Eng. Norberto B. Lichtenstein, consolidou a base da Patologia das Construções como especialidade. Em seu resumo, o boletim afirma:
"Discute-se a questão dos edifícios que, ao não alcançarem um desempenho mínimo pré-estabelecido, não atendem às exigências dos seus usuários. Levanta-se a necessidade da delimitação de todo um campo da engenharia, a Patologia das Construções, para o estudo das falhas dos edifícios. Para o caso dos edifícios que apresentam problemas patológicos, é proposto um procedimento de atuação. Este procedimento consiste basicamente em: levantamento do maior número possível de subsídios para o entendimento do problema, através de vistoria do local, do histórico do edifício e do resultado de exames complementares; diagnóstico da situação, ou seja, entendimento completo dos fenômenos ocorridos; definição da conduta a partir da escolha da alternativa de intervenção mais conveniente. É apresentada a aplicação real da metodologia proposta em diferentes casos, tratados por diferentes técnicas, todos eles com sucesso."
A Patologia é um termo inspirado na medicina, fazendo uma analogia com as doenças. Na construção civil, definimos da seguinte forma:
"A Patologia é a especialidade que estuda as doenças (manifestações patológicas) e atua na prevenção (profilaxia) e no tratamento (terapia) de problemas que podem afetar nossas construções, com o objetivo de termos edificações saudáveis, preservando o seu desempenho e aumentando sua vida útil."
Uma matéria da revista Téchne de 2011 traça uma associação importante entre o edifício e o corpo humano:
"É fácil traçar um paralelo e entender que o esqueleto humano compara-se à estrutura do edifício, onde a musculatura se assemelha às alvenarias, a pele poderia ser comparada aos revestimentos, o sistema circulatório seria como as instalações elétricas, de gás, esgoto e água potável, enquanto o aparelho respiratório seria o sistema de ventilação (janelas, ar-condicionado, sistemas de exaustão etc.)."
E ONDE LEONARDO DA VINCI ENTRA NESSA HISTÓRIA?
Essa analogia entre o corpo humano e os edifícios, que hoje utilizamos amplamente, pode ser encontrada na biografia de Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson. O livro relata que Da Vinci sustentava um argumento filosófico que gosta muito, sobre a conexão entre o corpo humano e os edifícios:
"Os remédios, quando usados da maneira adequada, restauram a saúde dos inválidos, e um médico fará o uso correto se conhecer a natureza humana. Uma catedral adoentada necessita exatamente do mesmo, de um ‘médico-arquiteto’ que conheça a natureza dos edifícios e as leis nas quais se baseia a construção correta."
Com esse relato e outros presentes no livro, podemos considerar que, entre tantas outras atribuições e habilidades, Leonardo da Vinci também era um patólogo das edificações.
De geração em geração, a história é contada e o legado é transferido de profissional para profissional. Inúmeros mestres em nosso país fizeram e fazem dessa especialidade uma área ativa, participativa e fundamental para a qualidade das construções e o cuidado essencial sem sua manutenção durante o seu ciclo de vida.
Que possamos honrar a história dessa profissão que escolhemos e pela qual somos apaixonados, sem jamais perder uma oportunidade de aprender e honrar os grandes mestres com quem temos a honra de conviver.
*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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