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Foto do escritorFernando Simon Westphal

IMPACTO DA REFLEXÃO DAS FACHADAS NA VIZINHANÇA

*Por Fernando Simon Westphal


Fachada do edifício 20 Fenchurch Street
Edifício 20 Fenchurch Street, em Londres, UK. Projeto: Rafael Viñoly/Divulgação: Getty Images/iStockphoto

Quem é do ramo de vidros e esquadrias certamente já ouviu falar do prédio que “derrete carros” em Londres, Reino Unido. Trata-se do edifício 20 Fenchurch Street, que leva o nome do seu endereço. O formato peculiar do prédio acabou lhe rendendo o apelido de “The Walkie Talkie”, pois lembra os tradicionais rádios de comunicação portáteis. 


A fachada sul do edifício, inteiramente envidraçada, apresenta uma concavidade que resulta na concentração dos raios solares em determinadas horas do ano. O problema de ofuscamento e reflexão de calor ganhou notoriedade quando resultou no derretimento de peças de acabamento em plástico de um carro estacionado na via próxima.


O problema é resultado de uma falha grave no projeto. O arquiteto não verificou que a concavidade da fachada resultaria na concentração da reflexão de pelo menos 6 chapas de vidro em um único ponto. Isso é questão de física, de óptica, teoria dos espelhos. Qualquer vidro apresenta um mínimo de reflexão solar. O vidro incolor comum reflete 8% da energia do sol. Mas alguns vidros de controle solar chegam a ter mais de 40% de reflexão. A concentração da reflexão de diversas chapas de vidro em um único ponto ou região pode gerar problemas sérios de ofuscamento (brilho excessivo) ou elevação da temperatura da superfície que recebe esse calor.


Para corrigir o problema deste edifício, foram instalados brises horizontais naquela fachada. Em entrevista ao portal The Guardian, o arquiteto responsável pelo projeto, o uruguaio Rafael Viñoly, afirma que os brises estavam previstos originalmente, mas que a incorporadora os retirou durante a execução da obra, a fim de reduzir custos. 


Outro projeto do mesmo arquiteto, o Vdara Hotel e Spa, concluído em 2009, em Las Vegas, apresentou problema semelhante devido a concavidade da fachada. Naquele edifício, a solução escolhida foi a aplicação de película não refletiva sobre os vidros.


Mas não precisamos ir tão longe para identificar situações com problemas de projeto semelhantes. Aqui em Florianópolis (SC), cidade onde resido, um edifício localizado na Av. Beira Norte possui sua fachada côncava, que resulta na concentração de raios solares em uma região específica a sua frente. O fenômeno não causa problemas maiores, porque se trata de uma via de trânsito rápido. Mas o canteiro central da rodovia apresenta uma “falha” na vegetação, devido ao calor intenso. Essa falha pode ser visualizada na vista aérea, disponibilizada pelo Google Maps. 


Vista aérea do edifício sede da Engie Brasil Energia
Vista aérea do edifício sede da Engie Brasil Energia, em Florianópolis, SC, com indicação da área do canteiro central com vegetação prejudicada devido ao excesso de calor devido à reflexão da fachada côncava. Divulgação: Google Maps

Esses problemas geram intensas discussões, porque levantam questionamentos acerca do impacto das fachadas em pele de vidro no entorno, prejudicando a imagem do vidro como material de construção de alta tecnologia. Mas vale destacar que a causa desse problema não é o vidro em si, e sim o projeto, especialmente, o desenho geométrico da fachada. Superfícies refletivas e côncavas devem ser evitadas. Isso também gera um problema de acústica, ampliando a intensidade sonora na região central da fachada.


Mesmo as fachadas planas precisam ter um estudo cuidadoso quando forem executadas em pele de vidro. A reflexão direta do sol pode gerar um ofuscamento com riscos à segurança no trânsito de veículos, pois podem prejudicar a visão dos motoristas. Em contrapartida, um projeto bem elaborado pode tirar proveito dessa reflexão. Superfícies envidraçadas podem ser geometricamente projetadas para trazer o sol em cânions urbanos sombreados pelos próprios edifícios. 


Em Nova Iorque, espelhos foram instalados no topo de um edifício para refletir o sol em uma praça que ficará confinada entre os arranha-céus. A própria fachada pode ser pensada para esse tipo de solução, tirando proveito da capacidade de reflexão do vidro. Basta avaliar geometricamente onde irá incidir a reflexão do sol. Hoje em dia esse tipo de análise é relativamente fácil de ser executada por simulação computacional ou com ferramentas simples de CAD em 3D, com o software Sketchup, por exemplo. 


Espelhos no topo de edifício
Espelhos colocados no topo de edifício em Nova Iorque com a função de refletir o sol a uma praça localizada no térreo. Divulgação: acervo pessoal

*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

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