Quando se fala a palavra “trópico”, a imagem que comumente vem à mente é a de um lugar exótico, sempre quente e úmido, sujeito a chuvas pesadas e constantes que lavam o solo e fazem com que a vegetação cresça descontroladamente. Alimentado por uma idealização, no decorrer da história, esse clima tropical já foi sinônimo de paraíso ao mesmo tempo em que era acusado de formar povos débeis por ser clemente demais.
Felizmente, esses julgamentos e associações foram deixados no passado, dando lugar a projetos teóricos e práticos que listam os ônus e bônus de se viver em uma região de clima tropical, reconhecendo as diferentes estratégias aplicadas para favorecer a adaptabilidade humana em meio a essas características climáticas tão peculiares.
Definitivamente, o clima é o componente mais importante do ambiente natural, pois é ele que afeta todos os processos geomorfológicos, desde a formação do solo ao desenvolvimento das plantas – e é justamente por este nível de interdependência que as mudanças climáticas são tão aterrorizantes. Nesse sentido, assim como ambiente natural responde ao clima, a arquitetura também deve respondê-lo.
Enquanto em um clima temperado, a casa precisa se manter “fechada” para proteger seus ocupantes do tempo rigoroso, retendo o máximo de calor possível, em um clima tropical, ao contrário, é preciso “abrir” a casa para permitir que o calor e umidade se dissipem, protegendo-a do sol e das chuvas abundantes. Essa volúpia do clima e da vegetação tropical oferece tanto que a vida ao ar livre, ou com maior contato com a natureza, é constantemente induzida, sendo os maiores desafios da arquitetura tropical gerar proteção contra a chuva e radiação solar direta, focando em táticas para mitigar as temperaturas internas.
Para isso, as estratégias bioclimáticas são crucias, fazendo com que as edificações respondam ao clima local, promovam a eficiência energética e aumentem o conforto dos ocupantes. Elas se referem aos princípios e técnicas de projeto que utilizam os elementos naturais para criar arquiteturas que sejam sustentáveis em diferentes aspectos, minimizando o impacto ambiental das edificações, ao mesmo tempo que maximizam o bem-estar dos ocupantes.
Como muito delas são aplicadas na interface entre o interior e exterior das edificações, separamos a seguir 7 estratégias bioclimáticas e suas aplicações nas fachadas de projetos residenciais inseridos no clima tropical.
ELEMENTOS DE SOMBREAMENTO
A incorporação de dispositivos de sombreamento, como saliências, venezianas, beirais, brises, cobogós ou qualquer outro tramado vazado nas fachadas pode bloquear efetivamente a luz solar direta, permitindo ao mesmo tempo luz difusa e ventilação natural. Esses elementos ajudam a reduzir o ganho de calor solar, minimizar o brilho e manter temperaturas internas confortáveis.
CASA KENZ / SRIJIT SRINIVAS ARCHITECTS
CASA DELTA / BERNARDES ARQUITETURA
VEGETAÇÃO
A introdução de vegetação nas fachadas, por meio de jardins verticais, paredes vivas ou floreiras, pode fornecer isolamento natural, reduzir a absorção de calor e melhorar a qualidade do ar. As plantas também contribuem para o sombreamento e o resfriamento evaporativo por meio da transpiração, aumentando ainda mais o conforto térmico e reforçando a imagem do cenário tropical dentro da arquitetura.
GALPÃO TROPICAL / LAURENT TROOST ARCHITECTURES
RESIDÊNCIA ENTRE JARDINS / VTN ARCHITECTS
ESTRATÉGIAS DE VENTILAÇÃO
As fachadas das arquiteturas tropicais geralmente apresentam janelas operáveis ou outras aberturas estrategicamente posicionadas para facilitar a ventilação cruzada e promover o fluxo de ar natural. Isso ajuda a reduzir os níveis de umidade e melhorar a qualidade do ar interno.
EXPANSÃO DO VALE / STUDIO HEYA
CASA OF / STUDIO OTTO FELIX
ORIENTAÇÃO SOLAR
A orientação solar adequada das edificações pode otimizar a entrada da luz natural e minimizar o ganho de calor solar. Em climas tropicais, projetar edificações com orientação norte-sul reduz a exposição à luz solar direta, especialmente durante os períodos mais quentes do dia.
A CASA DO SILÊNCIO / NATURA FUTURA ARQUITECTURA
CASA DE CAMPO EM PUENTE IGLESIAS / OFICINA DE ARQUITECTURA Y PAISAJE OAP + MDE ESTUDIO
MASSA TÉRMICA
Incorporar materiais com alta massa térmica, como concreto, pedra ou adobe, na construção das fachadas ajuda a absorver e armazenar calor durante o dia e liberá-lo gradativamente à noite. Isto ajuda a estabilizar as temperaturas internas e a reduzir a dependência de sistemas de refrigeração mecânica.
CASA DISCRETA / JIRAU ARQUITETURA
EARTH FARMHOUSE / STUDIO VERGE
SUPERFÍCIES REFLEXIVAS
Materiais de cores claras ou reflexivos usados em fachadas podem minimizar a absorção de calor ao refletir a radiação solar, reduzindo assim a necessidade de resfriamento e atenuando o efeito de ilha de calor urbano.
NAGATO HOUSE / RASA ARCHITEKTURA
HOUSE COVE(R) / TOUCH ARCHITECT
ADAPTABILIDADE
A integração de sistemas de fachada responsivos, como persianas ajustáveis ou elementos de sombreamento dinâmico controlados por sensores, automação ou mesmo manualmente, permite a adaptação em tempo real às mudanças nas condições ambientais, otimizando o desempenho energético e o conforto dos ocupantes.
CASA PÁTIO / CAIO PERSIGHINI ARQUITETURA
CASA ABK / BERNARDES ARQUITETURA
Fonte: Arch Daily
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