O que há em comum entre os edifícios com quase um 1km de altura em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e os edifícios altos de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, que ganharam a atenção da sociedade ao serem “flagrados” balançando com a força do vento? De acordo com o professor João Carlos de Campos, em comum há a aplicação de boas técnicas de engenharia civil, pautadas por normas rigorosas e elaboradas com o suporte de tecnologia avançada. “Além, claro, de um certo fascínio do homem pelo que é considerado ‘impossível’ de se realizar”, afirma o professor. “Todo aquele balanço é normal”, garante.
João Carlos, que leciona em cursos de pós-graduação com ênfase em estruturas, é também autor do livro “Elementos de fundações em concreto”, cuja segunda edição foi recentemente lançada pela Editora Oficina de Textos. Em conversa à equipe de comunicação, o autor esclarece como são projetados os edifícios altos e comenta também o caso dos edifícios “tortos” da Baixada Santista, em São Paulo.
EDIFÍCIOS QUE ‘BALANÇAM’ SEGUEM AS NORMAS TÉCNICAS
No caso de prédios muito altos como os de Balneário Camboriú (SC), João Carlos explica que, em função das elevadas alturas dessas obras, são feitos ensaios em túneis de vento. “A equipe envolvida nesse tipo de obra monta um protótipo em um edifício, aplica um efeito de vento especificado pelas Normas Técnicas, para que depois se possa desenvolver o dimensionamento estrutural e das fundações desses prédios”, diz.
“É semelhante ao que se fez em relação aos grandes edifícios em Dubai, em que alguns contam com 800 metros de altura, outros com 1 quilômetro de altura”, afirma João Carlos.
O professor lembra ainda que alguns edifícios considerados altos, como o Taipei 101 (Taiwan) foram construídos com um “contrapeso” aplicado à estrutura. “Na hora que um prédio movimenta para um lado, o contrapeso movimenta para o outro lado”.
A diferença é que as técnicas e os métodos de cálculo se sofisticaram com o passar do tempo, conferindo mais segurança e mais precisão na elaboração desse tipo de obra de engenharia. “Hoje temos softwares, laboratórios com grande capacidade de pesquisa, ferramentas tecnológicas para fazer simulações”, salienta João Carlos. “Ainda pode acontecer um acidente relacionado à força dos ventos? Sim. Mas o evento que ocorrer tem que ter força muito maior do que aquele em que a Norma especifica hoje”.
Ele pontua, ainda, que o caso dos prédios “que balançam” em Balneário Camboriú é diferente do que ocorre com os edifícios “tortos” da Baixada Santista, em São Paulo, que impressionam igualmente a população local.
“Os prédios de Santos foram recalcando ao longo das décadas em razão do solo argiloso sob a camada superficial arenosa em que foram construídos, mas já existem tecnologias desenvolvidas para ‘levantar’ os prédios, ou seja, colocá-los na vertical novamente”, adianta o professor.
É possível que novos prédios deformem ao longo das próximas décadas pelo mesmo motivo. Entretanto, as soluções de engenharia já dão conta de evitar situações graves como as dos prédios antigos. “Já se consegue executar estacas em grandes profundidades, muito superiores àquelas que foram feitas no passado”, garante João Carlos.
O CÉU É O LIMITE
Não existe um limite de altura para a construção de edifícios, segundo João Carlos. “A única imposição da engenharia é que um prédio atenda os limites impostos pelas normas, quanto a cargas, deformações etc., dando aos usuários as condições de conforto e segurança necessários”, explica o professor.
Ele conta que, se o prédio deformar além daquilo que especifica a Norma Técnica, é preciso ‘enrijecê-los’ – ou seja, criar estruturas mais robustas. “Quanto mais robusta for a estrutura, menor essa movimentação”, esclarece.
“De forma geral, acredito que a vontade de se construir edifícios cada vez mais altos vem puramente do desafio. O limite apenas se encontra quando o homem não tem condições seguras para desenvolver e realizar empreendimentos cada vez mais sustentáveis e impressionantes”, conclui João Carlos. “Isso se supera com conhecimento, pesquisa. Por isso a engenharia é fantástica, pois ela evolui de forma cada vez mais interessante e segura”.
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