Conheça três histórias de representatividade e empoderamento na área
Por Stephanie Fazio
Reprodução: Fise e acervo pessoal
“O setor é formado basicamente por mulheres e os homens ajudam sempre que solicitado. Acredito que o grande diferencial está na observação dos detalhes e zelo na execução das atividades das mulheres”, diz Silvia Carvalho de Santana, preparadora de produtos da Fise, fabricante de componentes para esquadrias, com sede na região de Capela do Socorro, zona sul de São Paulo (SP).
Ela atua no setor há sete anos e conta que está sempre buscando se capacitar. “Organizo o setor e distribuo as atividades, conforme a demanda, para atender os prazos estipulados dos produtos”, descreve.
Fabilma Aguiar, supervisora de vendas da Vidraçaria Rochedo, de Maceió (AL), afirma que o fato de ser mulher e trabalhar no setor da construção civil, ainda dominado por homens, não causou nenhum impacto ou dificuldade adicional ao assumir o cargo junto à equipe.
“Pelo contrário, nos damos super bem, principalmente na questão de fechamento de vendas, não existe essa relação de separação de sexo, mas sim, o que cada pessoa pode desempenhar em cada cargo”, argumenta. O convite para o emprego de supervisora, que assumiu há mais de um ano, realizando orçamentos solicitados online, veio de uma indicação pós-faculdade.
Paula Silveira Bettiol, engenheira química e mestre em ciência e engenharia de materiais, atua como assistente de controle de qualidade no setor de extrusão de alumínio, na Alumasa, produtora de perfis de alumínio, localizada em Urussanga (SC). “Analiso propriedades mecânicas e dimensionais, segundo normas vigentes de diferentes perfis e ligas de alumínio, desenvolvo instruções de trabalho específicas para processos críticos de produção e realizo inspeções de produto acabado, bem como análise de indicadores”, descreve Paula.
A engenheira química trabalha na área há oito anos. Sua primeira oportunidade no setor de anodização para alumínio foi como estagiária, em 2013, enquanto ainda cursava a faculdade.
Assim como Silvia e Fabilma, ela relata que não sofreu nenhuma discriminação de gênero na empresa. “A equipe sempre foi muito receptiva e solícita, mesmo sendo composta em quase sua totalidade por homens; trabalhamos de igual para igual”, comenta.
O fato de ser mulher nunca foi um ponto que apresentou dificuldade profissional para Paula, “apesar de ser um campo de trabalho majoritariamente masculino, o que realmente vale é o quanto você se qualifica para conseguir uma vaga dentro deste ramo; neste caso, é de suma importância estudar e se qualificar, isso gera um diferencial como profissional dentro do mercado de trabalho”, diz.
REPRESENTATIVIDADE E VALORIZAÇÃO
Nos últimos dez anos, o Ministério do Trabalho e Emprego estima que a absorção de mulheres na construção civil cresceu quase 50%. De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, mais de 200 mil mulheres atuam na construção civil, um mercado que cresceu 120% entre 2007 e o primeiro semestre de 2018, passando de 109.006 trabalhadoras registradas em 2007, para 239.242 em 2018.
Apesar desses dados, a presença delas na construção civil ainda é muito baixa. Segundo o presidente do Sinduscon-DF, Dionyzio Klavdianos, as mulheres representam apenas 10% do total de trabalhadores da construção civil. “Se concentram em atividades administrativas. Quando vamos para os canteiros de obras, nas funções como pedreiro, pintor, esse percentual cai a quase zero”, detalhou em entrevista à Agência Brasília, em 2020.
Entre os fatores que contribuíram para o aumento da participação feminina nesse mercado, estão: busca de novos desafios profissionais; maior receptividade das empresas para contratação; incentivos na capacitação da mulher para o setor; avanços tecnológicos no canteiro de obra, que dispensam cada vez mais a força física e privilegiam a qualificação profissional; entre outros — conforme o portal Business Integrator.
Para incentivar ainda mais as mulheres a trabalharem na área e acabar com o preconceito arraigado na sociedade, Silvia acredita que se deve mostrar na prática o desenvolvimento das mulheres que atuam neste ramo e que não há diferença nas tarefas realizadas por mulheres ou homens.
“As mulheres têm capacidade intelectual, principalmente de se desenvolver racionalmente com eficácia, rapidez e, se possível, trabalho braçal”, ressalta Fabilma.
“É importante expor e mostrar às nossas meninas, desde crianças, que mulheres são capazes de ser o que elas quiserem, como: engenheiras, arquitetas, mestres de obras, pesquisadoras e cientistas. Fazer com que essa informação chegue até elas, através de meios de comunicação, visitas técnicas, brinquedos, pela escola, entre vários outros meios, é de suma importância”, afirma Paula.
Segundo a engenheira química, precisamos trazer exemplos de profissionais para as mais jovens, demonstrando a representatividade e plantando sementes de esperança e vontade, que poderão ser colhidas no futuro. Ela relembra que foi assim que se inspirou a se tornar uma delas, vendo uma engenheira química atuando dentro da indústria de cerâmica há catorze anos atrás.
Silvia conta que para ser reconhecida em seu trabalho foi fundamental dominar os equipamentos com que atua, obtendo assim um melhor proveito do serviço e atingindo os objetivos do setor. “A minha relação com os demais funcionários é muito boa, pois há respeito de ambos os lados”, explica.
De acordo com Paula, não existe uma competição entre homens e mulheres na Alumasa, pois todos sempre são ouvidos e trabalham para alcançar os objetivos juntos. “O reconhecimento é só uma consequência natural ao resultado de um bom trabalho desenvolvido e, dentro de nossa empresa, esse processo não é diferente”, conclui.
Comments