David Fratel, engenheiro civil e professor, diretor executivo do Grupo Kallas, coordenador do grupo de Trabalho Recursos Humanos do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e membro do Comitê de Qualidade e Tecnologia do SindusCon-SP, traça um panorama sobre o cenário atual do mercado e as oportunidades para os profissionais da área. Acompanhe a entrevista.
REVISTA CONTRAMARCO - Compare a remuneração dos profissionais do setor entre 2023 e o momento atual. Qual o percentual de aumento? Os profissionais têm buscado maior qualificação?
David Fratel - De acordo com um estudo encomendado pelo SindusCon-SP e divulgado em outubro de 2024, os trabalhadores com carteira assinada no estado de São Paulo representam 27,1% do total de ocupados no setor, ou 3,8% do total de trabalhadores assalariados formais do estado.
Em 2023, a renda média dessa categoria foi superior à média do estado e dos demais setores. O trabalhador formal paulista tem remuneração 28% maior que a média nacional. Entre 2012 e 2023, a remuneração média dessa categoria aumentou 7,6% no estado. Em comparação a 2019, houve um aumento de 8,3%, enquanto a média estadual para todas as atividades caiu 3%. Essa análise baseia-se nos dados do Novo Caged. Embora ainda não tenhamos dados oficiais que permitam uma análise tão detalhada, tudo indica que a renda média do trabalhador formal melhorará em 2024 em relação ao ano de 2023.
A qualificação profissional na construção civil ainda é limitada. O SindusCon-SP, por meio da Diretoria Educacional, liderada pelos engenheiros Roberto Pastor e Sérgio Cincurá, lançou um programa de capacitação em canteiros de obra com cursos gratuitos de 60 horas, em parceria com o Senai-SP. Em 2023, formamos 190 profissionais e, até agora em 2024, 360 profissionais. Em São Paulo, registramos cerca de 1,6 milhão de trabalhadores no setor em 2023. Este cenário deve mudar com uma nova parceria entre SindusCon-SP, Senai-SP e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para ampliar os cursos de capacitação e qualificação (inclusive formação técnica), oferecendo maior qualidade e atraindo mais pessoas para o setor.
REVISTA CONTRAMARCO - Quais foram as profissões/ocupações com maiores índices de reajustes salariais? Por quê?
David Fratel - A construção civil segue os parâmetros de remuneração dos Acordos Coletivos de Classe e, em alguns casos, dos Dissídios Coletivos. Os valores são fixos por região, diferenciando profissionais “não qualificados” e “qualificados”. Nos últimos anos, os reajustes salariais têm se baseado nos índices oficiais de inflação. Após a pandemia, melhorou a remuneração por produtividade, permitindo a um profissional qualificado ganhar até R$ 7 mil por mês. Ainda não há dados oficiais sobre essa questão.
REVISTA CONTRAMARCO - Com a remuneração dos profissionais qualificados aumentando, por que o setor ainda sofre com a escassez de mão de obra?
David Fratel - São vários os fatores que interferem na escassez de mão de obra. A qualificação atual dos colaboradores nas empresas é questionável. Precisamos melhorar a qualificação, capacitando os profissionais de forma adequada. Isso reduzirá os retrabalhos e aumentará a produtividade. Com maior produtividade, o número de profissionais tenderá à estabilidade.
Outro ponto importante é a idade média do trabalhador. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2023, a idade média do trabalhador paulista, que atua no setor da construção civil é de 40,5 anos, enquanto no Brasil é de 42,7 anos.
Notavelmente, essa média vem subindo gradualmente. Em 10 anos, a idade média aumentou 10%. A base da pirâmide etária brasileira está muito “desnutrida”, se assim podemos dizer. Portanto, é essencial criar atratividade para os jovens que estão em idade de ingressar no mercado de trabalho e os rotulados “Sem Sem” ou “Nem-Nem” (nem trabalham e nem estudam).
REVISTA CONTRAMARCO - Trace um breve panorama com as principais previsões para o setor no próximo ano.
David Fratel - Para o próximo ano, esperamos um aquecimento significativo na construção civil, acompanhado por maiores dificuldades na captação de mão de obra qualificada (viveremos o tal “piorar para melhorar”) . Em contrapartida, veremos empresários e associações de classe mais preocupados e dedicados à inovação de sistemas construtivos, à industrialização da construção civil e à qualificação profissional.
Mostrar aos jovens que a construção civil está se adaptando às novas gerações é fundamental. Por isso, a colaboração do Senai-SP, dos sindicatos de trabalhadores e dos sindicatos patronais, como o SindusCon-SP e o Secovi-SP, fomentando a qualificação, capacitação e industrialização, é indispensável.
REVISTA CONTRAMARCO - Cite 5 tendências atuais nos canteiros de obras. Comente sobre a aplicação das esquadrias e vidro.
David Fratel - A aplicação de sistemas construtivos industrializados é a grande tendência do setor, com o objetivo de diminuir a dependência da mão de obra direta, com racionalidade (custo-benefício) em canteiro de obras. A popularização de painéis industrializados para vedação vertical (como drywall, steel frame e wood frame), a adoção de construção modular, o uso de revestimentos de fachada industrializados (painéis de concreto pré-fabricados, fachadas ventiladas e peles de vidro), projetar sistemas estruturais em parede de concreto para execução de edifícios, além de toda uma gama de produtos e serviços industrializados nas instalações prediais, são bons exemplos.
Fonte: SindusCon-SP
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