COBERTURAS EM VIDRO
- Fernando Simon Westphal
- 18 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de mai. de 2023
*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador da UFSC

Sempre que converso sobre os benefícios dos vidros de controle solar, costumo alertar para os limites de desempenho em determinadas aplicações. Por exemplo, nas coberturas, por mais seletivo que seja o produto aplicado, com o fator solar mais baixo possível e numa composição insulada, o ganho de calor ainda é expressivo e o desconforto localizado é inevitável. Esse desconforto é causado pela incidência direta do sol sobre as pessoas, que mesmo em um ambiente climatizado irão relatar sensação de calor.
Diferente de uma fachada na vertical, que recebe um pico de calor em uma hora específica do dia, uma cobertura com inclinação muito baixa recebe mais de 700 watts por metro quadrado (W/m²) por mais de uma hora, entre as 10h e 14h. O pico, às 12h, ultrapassa os 1000W/m². Isso em qualquer latitude brasileira, em dias de céu claro. A variação da linha do equador até o extremo sul não é tão significativa para o plano horizontal.
Isso representa muita carga térmica. Caso seja utilizado um vidro com fator solar extremamente baixo, em torno de 0,15, o ganho de calor será de 150W/m². É o mesmo nível de intensidade de aquecimento provocado por um telhado de fibrocimento sem forro, com a diferença que o vidro permite a incidência direta do sol sobre as pessoas abaixo da cobertura, podendo gerar o desconforto localizado. No caso do telhado, o que sentimos é a radiação emitida pela telha aquecida. O desconforto também é significativo.
MAS NEM POR ISSO DEVEMOS ABOLIR TAIS APLICAÇÕES EM VIDRO!
O grande benefício do vidro é permitir o contato visual com o exterior e acesso a luz natural. Mas o ganho do calor do sol é uma consequência que deve ser colocada na balança. Algumas medidas podem ser empregadas para minimizar ou contornar a situação.
A primeira delas é o uso de vidros de controle solar, com fator solar abaixo de 0,25. A serigrafia também pode ser utilizada para criar painéis de vidros translúcidos ou opacos em áreas mais críticas. Mas o melhor resultado, evidentemente, é alcançado com o sombreamento, seja externo ou interno. Existe um pouco de mito acerca do sombreamento interno, de que ele não é eficaz porque “o calor do sol já entrou”.
Mas na verdade, quando usamos uma cortina interna em casa, percebemos a diferença significativa em relação à janela quando sem proteção. O sombreamento interno reduz sim o ganho de calor e mantém a zona aquecida próxima ao vidro, facilitando sua transmissão por convecção e condução de volta para o ambiente externo. Cortinas e persianas de cores claras serão bem mais eficazes.
Como estratégias de sombreamento externo podemos lançar mão de elementos arquitetônicos da própria edificação ou brises e vegetação (árvores e vasos de grande porte). Cabe à equipe de projeto balancear as medidas e ver até que ponto vale a pena aumentar a transparência ou limitar o acesso visual ao exterior.
QUAL O PREÇO DO CONFORTO?
Sempre coloco essa questão nas palestras que faço. O vidro é visto como um vilão do efeito estufa. Porém, mesmo os fechamentos opacos provocam tal fenômeno, principalmente, se tiverem baixo nível de isolamento térmico. O vidro leva a pior fama por proporcionar um ganho de calor significativo em relação a fechamentos opacos. Mas o que gera o efeito estufa é a falta de ventilação e renovação de ar. Por exemplo, um contêiner fechado e exposto ao sol terá sua temperatura interna muito elevada, mesmo sendo todo opaco.
Entre os arquitetos, o uso do vidro é sempre polêmico, seja por questões de ganho de calor excessivo, ou reflexão desagradável no entorno. Cabe o bom senso em cada caso. Soluções e tecnologias existem para contornar vários problemas. O vidro, sozinho, nem sempre resolve todas as questões.
*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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