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ACM FR: ÚNICO TIPO DE NÚCLEO NORMATIZADO PARA REVESTIMENTO DE OBRAS DE ALTA PERFORMANCE

*Por Johnny Vieira de Souza – responsável pelo departamento de projetos da Projeto Alumínio, arquiteto e professor universitário


Em 2017, um incêndio de grandes proporções ocorrido em Londres, Inglaterra, acarretou na morte de pelo menos 79 pessoas no Edifício Grenfell Tower. Esta tragédia foi notícia em todo o mundo, inclusive no Brasil. O material tido como “vilão” na ocasião foi o ACM com núcleo denominado popularmente como “comum” (composto por Polietileno de Baixa Densidade – resumido pela sigla LDPE).


Se fossem seguidas as normas internacionais, o ACM com núcleo “comum” jamais seria utilizado como revestimento daquela edificação, pois o material não possui características para esta utilização, principalmente devido ao porte e uso.


O ACM com núcleo “comum” deve ter seu uso restrito a pequenas edificações (sem exigência de performance contra incêndios) e a comunicação visual, ou seja, na elaboração de placas informativas ou de publicidade, além de letreiros. Para utilização como revestimento, o material correto é o ACM com núcleo FR (Fire Resistant – Resistente ao Fogo), que possui características de performance em caso de incêndios (figura 1).


Yachthouse Residence Club
Yachthouse Residence Club (design assinado pela Pininfarina), em Balneário Camboriú (SC), é o mais alto edifício do Brasil, e utilizou painéis de ACM FR IIA da Projeto Alumínio em todas as fachadas/Divulgação: Imobille (2023)

Muitas marcas de ACM existentes no mercado brasileiro não apresentam nenhuma certificação ou apresentam certificações de laboratórios não credenciados. A responsabilidade civil e criminal de um produto que apresenta baixo nível de segurança é um compromisso, tanto do fornecedor quanto do instalador, construtor, arquiteto e ou engenheiro especificador.


Em um incêndio, os casos fatais geralmente são decorrentes de sufocamento (falta de oxigênio) por causa da combustão de algum material que consome rapidamente o oxigênio, principalmente em ambientes fechados (dentro de uma edificação), onde não há renovação de ar, este fator é preponderante para redução do oxigênio. A combustão sendo incompleta resulta em mais fumaça e gases tóxicos, associados a alta temperatura ocasionam queimaduras externas e internas pela inalação e são responsáveis pela maioria das mortes.


Em condições ambientais, o comburente é o oxigênio contido no ar. A energia de ignição é a chama de diversas origens como, por exemplo, um curto-circuito. A combustão de um painel com núcleo FR – Fire Resistant (Resistente ao Fogo) resulta em gás carbônico e vapor de água, ambos considerados atóxicos, este fator é preponderante para não haver envenenamento, uma vez que não há inalação de gases tóxicos.


COMPOSIÇÃO DO NÚCLEO


O combustível de um painel de ACM é basicamente o seu núcleo e a tinta. O que caracteriza a classificação do ACM perante o desempenho é a composição do material utilizado para fabricação do núcleo.


O polietileno tanto virgem como o reciclado é considerado inflamável e de fácil propagação do fogo, gera gases tóxicos e gotejamento em chamas. Quando misturado com outro produto (chamado carga) orgânico, a característica de inflamabilidade se mantém e modifica a composição de gases gerados.


Quando misturado com carga mineral, a quantidade de combustível é reduzida. Existem produtos que além de reduzirem a quantidade de combustível, quando misturados, servem como retardantes de chamas.


Essas cargas, como hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio, quando em presença do calor reagem e geram vapor de água (que abafa a chama ocupando o lugar do ar) e absorvem mais energia na reação (reduz a temperatura). O resultado da reação são óxidos minerais não combustíveis que acabam recobrindo também parte do núcleo combustível. Os hidróxidos de alumínio e magnésio são clássicos por terem bom custo-benefício e serem eficazes como retardantes, embora existam outros no mercado (figura 2).


Aeroporto Internacional de Vitória (ES)
As fachadas do Aeroporto Internacional de Vitória (ES) utilizaram ACM FR IIA da Projeto Alumínio/Divulgação: Projeto Alumínio (2019)

Um núcleo retardante a chamas é também combustível, mas necessita de maior quantidade de energia para ignição e muitas vezes tende a ser auto-extinguíveis. Já os núcleos anti-chamas não são combustíveis, como colméias de ligas de alumínio e outros núcleos especiais que contém apenas 2% de material combustível que se resumem basicamente na tinta e no adesivo (não utilizados no Brasil).


No Brasil, o ACM comercializado pela Projeto Alumínio, maior fabricante de painéis de ACM da América Latina, possui basicamente dois tipos de núcleos. A NBR 16626 — Classificação da reação ao fogo de produtos de construção classifica os núcleos e consequentemente o ACM (material por completo), da seguinte forma (figura 3):


  • NÚCLEO RESISTENTE AO FOGO (FR) = composto por um misto de polietileno com carga mineral (superior a 70% da composição). Através da mistura, é possível obter maleabilidade, ao mesmo tempo, confere estabilidade e resistência proporcionando ao edifício a segurança necessária relacionada ao incêndio. Este material possui classificação II-A pela IT 10 dos Bombeiros do Estado de São Paulo (resultado obtido pelo ensaio 1 086 550-203 do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT).


  • NÚCLEO COMUM (LDPE) = Denominado pela sigla LDPE (Polietileno de Baixa Densidade) é composto por polímeros, como o polietileno, que é obtido através da polimerização do etileno. Embora seja um material leve, rígido, com bom desempenho em planicidade e auto extinguível, este material possui classificação IV-A pela IT 10 dos Bombeiros do Estado de São Paulo (resultado obtido pelo ensaio 1 048 016-203 do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT).


Teste comparativo entre ACM com núcleo comum - LDPE (esquerda) e núcleo anti chamas FR classe IIA (direita)
Teste comparativo entre ACM com núcleo comum - LDPE (esquerda) e núcleo anti chamas FR classe IIA (direita)/Divulgação: Vídeo publicitário da Projeto Alumínio (2017)

NORMAS E INSTRUÇÃO TÉCNICA


Internacionalmente há inúmeras normas que tratam procedimentos e materiais relacionados à flamabilidade, algumas semelhantes e outras mais rigorosas. É necessário determinar quais as que são pertinentes ao ACM, em função da sua utilização e do país onde será instalado. O ACM que atende às normas europeias (EN) pode não atender a norma japonesa (JIS) para materiais de construção. Da mesma forma, em países onde não há norma pré-estabelecida, é comum a exigência de diversos testes para atender um objetivo específico.


No Brasil, os materiais para construção civil são classificados pela ABNT NBR 16.626. Materiais totalmente incombustíveis, segundo a ISSO 1182, são enquadrados na classe I. É importante ressaltar que as normas apenas classificam os materiais segundo os critérios de desempenho.


Com o objetivo de regulamentar os materiais das edificações, o mercado brasileiro apoia-se nas condições estabelecidas pela Instrução Técnica (IT) do Corpo de Bombeiros de cada estado. No Estado de São Paulo, a Instrução Técnica (IT) nº10/2019 (posteriormente adotada por vários outros estados da União com diferentes nomes) tem como objetivo estabelecer as condições a serem atendidas pelos materiais de acabamento e de revestimentos empregados nas edificações, para que, na ocorrência de incêndio, restrinjam a propagação de fogo e o desenvolvimento de fumaça, para atender o que está previsto no Decreto do Estado de São Paulo 56.819/11 (Regulamento de Segurança Contra Incêndio das Edificações e Áreas de Risco do Estado de São Paulo).


Aeroporto Internacional de Vitória (ES)
As fachadas do Aeroporto Internacional de Vitória (ES) utilizaram ACM FR IIA, da Projeto Alumínio/Foto: Ana Mello Fotografia (2019)

A IT 10 aplica-se a todas as edificações onde são exigidos controles de materiais de acabamento e de revestimento conforme ocupações e usos por ela classificadas. Ela define materiais de acabamento sendo todo material ou conjunto de materiais empregados nas superfícies dos elementos construtivos das edificações, tanto nos ambientes internos como nos externos, com finalidades de atribuir características estéticas, de conforto, durabilidade, entre outras. Inclui como material de revestimento os pisos, forros e as proteções térmicas dos elementos estruturais.


Além de todo ensaio, classificação do ACM utilizado e regulamentação de uso em relação à classe da edificação, está em andamento um estudo que visa classificar o sistema de fachadas na sua totalidade, o que inclui a subestrutura, isolamento térmico e acústico e fixações de todos os componentes. Os ensaios, neste caso, são baseados na norma britânica BS 9414 — Fire performance of external cladding systems (Desempenho ao fogo de sistemas de revestimento externo, em tradução literal), que simula um pequeno incêndio em uma fachada sob condições controladas e avalia as temperaturas atingidas e a propagação das chamas.


Edifício Monvert, Salvador (BA)
As fachadas do Edifício Monvert (Salvador BA) utilizaram ACM FR IIA da Projeto Alumínio/Divulgação: Projeto Alumínio (2023)

*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.

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