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Equipe Contramarco

ACIDENTES DOMÉSTICOS: VEJA COMO AS ESQUADRIAS E A AUTOMAÇÃO PODEM AJUDAR A EVITÁ-LOS

Por Stephanie Fazio


Trilho de chão de porta de correr
Divulgação: Pinterest

No último dia (04) de novembro, o cantor Agnaldo Rayol, de 86 anos, morreu. De acordo com a sua assessoria, ele estava em sua casa, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, quando sofreu uma queda e bateu a cabeça. O cantor foi socorrido e encaminhado para o Hospital Hsanp, mas não resistiu ao ferimento, segundo a CNN Brasil.


Em outubro deste ano, outro acidente doméstico chamou a atenção, desta vez, com o presidente Lula, que sofreu uma queda, bateu a cabeça e teve traumatismo craniano. O caso aconteceu no banheiro do Palácio da Alvorada, em Brasília (DF), e o presidente segue realizando exames e acompanhamento médico.


Para entender mais sobre os elementos arquitetônicos que podem causar acidentes e o papel da esquadria, do guarda-corpo e da automação para evitá-los, a equipe da Revista Contramarco entrevistou o arquiteto Bruno Moraes, à frente do escritório BMA Studio.


Revista Contramarco - Acidentes domésticos estão ocorrendo com frequência. Quais são os principais elementos arquitetônicos que podem causar acidentes?


Bruno Moraes - Um dos principais elementos que eu vejo é o desnível do piso, o “tropeço” em uma pequena elevação, como da sala para varanda, ou num degrauzinho, ou numa baguete no meio do caminho, como vemos em banheiros, ou uma soleira que sai um pouquinho para cima do piso, ou uma escada que não tenha todos os espelhos iguais, o espelho da escada é a superfície vertical do degrau, quando dizemos não iguais é devido a alturas diferentes, por exemplo: 17, 17, 17 cm e o último degrau com 15 cm, é muito provável que as pessoas tropecem. 


Outro fator que causa bastante acidente doméstico é a questão da especificação inadequada do piso, imagina um porcelanato escorregadio em áreas molhadas, como banheiros, eles são perigosos.


Além disso, o acúmulo e a má distribuição do mobiliário, que obstruem as áreas de circulação, pode levar a acidentes e tropeços constantes em mesas de centro, cadeiras ao lado do sofá e outros. Um exemplo foi o caso de um familiar idoso que, ao sofrer uma queda de pressão, tropeçou e caiu em uma mesa de centro e fraturou costelas. 


Quando se trata de uma residência para idosos, precisamos levar em consideração alguns pontos, como: será que faz sentido deixar esse mobiliário aqui? Eu também procuro especificar mobiliários com cores que realçam para facilitar a visualização, pois não dá para utilizar um sofá bege com piso e parede da mesma cor em uma casa para a terceira idade, por exemplo, pois idosos já não possuem a mesma percepção visual. Esse contraste de cores é importante na residência de um idoso ou em casas de deficientes visuais, sendo possível acrescentar contrastes de cores em pisos, paredes, tecidos e cadeiras.


Para pessoas com dificuldade de mobilidade, com crianças ou com idosos, eu não aconselho ter tapete no meio da sala, especialmente se as bordas se levantarem e causarem tropeços. Até mesmo o projeto de iluminação, nós do escritório não recomendamos deixar uma casa totalmente ou parcialmente escura, isso atrapalha e as pessoas podem sim tropeçar e causar um acidente.


Para atender à necessidade de acessibilidade em um sobrado, onde uma pessoa com dificuldade de mobilidade ou idosa possa residir, é essencial pensar em adaptações estratégicas para evitar riscos. Um exemplo que já apliquei foi a transferência do quarto de uma pessoa com mobilidade reduzida para o andar térreo, eliminando a necessidade de subir e descer escadas diariamente. É preciso avaliar o perfil dos moradores — sejam idosos, pessoas com mobilidade reduzida ou até crianças — para incorporar essas necessidades de forma cuidadosa ao projeto.


Outro acidente muito comum hoje em dia é causado por vazamentos de gás. Os sensores de gás, que detectam vazamentos provenientes de aquecedores ou cooktops e emitem alertas imediatos para a rede de apoio, são soluções. 


Outra indicação é a instalação de fechaduras eletrônicas na casa com idosos, uma opção que está super em conta, pois os sistemas permitem que os moradores distribuam senhas para a rede de apoio - familiares ou cuidadores, facilitando o acesso em situações de emergência. Por exemplo, se alguém passar mal, as pessoas próximas poderão entrar rapidamente na residência para prestar assistência, sem precisar de uma chave.


Nós também estamos com um caso no escritório que exemplifica a importância da segurança inteligente envolvendo um cliente cujo pai é diagnosticado com Alzheimer. Para evitar que ele saia de casa e se perca, integramos um sensor na porta de entrada que notifica os filhos sempre que a porta é aberta ou fechada, acionando a câmera e enviando alertas automáticos. Essa solução oferece um monitoramento constante que garante maior controle e segurança para todos, mas o ponto principal é entender quem será o morador e quais são as suas necessidades específicas.


Revista Contramarco - De maneira geral, como as esquadrias contribuem para a acessibilidade dos espaços?


Bruno Moraes - As esquadrias, se não forem cuidadosamente planejadas, podem causar acidentes. Um exemplo claro é o box do banheiro, que geralmente tem uma esquadria elevada para evitar o vazamento de água para fora da área molhada. No entanto, essa elevação pode representar um risco de tropeço para quem entra no box, especialmente para idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. A elevação pode ser minimizada de acordo com a necessidade. 


Há também a questão do acesso ao box de banheiro que, para garantir a segurança, precisa de um vão de abertura adequado para cadeiras de rodas, se necessário. Em um projeto recente para um casal idoso, planejamos o banheiro com portas mais amplas, possível de entrar com cadeira de rodas, e instalamos um banco de pedra no box, dando mais estabilidade para o uso.


No caso de uma varanda integrada à sala, onde não há a mesma necessidade de retenção de água como no banheiro, é possível adaptar o espaço para eliminar desníveis e tornar o ambiente mais seguro. Em um projeto recente, a construtora havia entregue o apartamento com o castilho – trilho de base da porta de correr – elevado em relação ao piso, o que representava um risco de tropeço, especialmente para crianças.


Para resolver isso, removemos o castilho elevado, quebramos o contrapiso e embutimos o trilho, deixando-o nivelado com o piso. Dessa forma, criamos uma passagem contínua entre a sala e a varanda, eliminando o desnível e garantindo que o ambiente fosse mais seguro para a circulação. Esse nivelamento é uma medida importante em projetos de acessibilidade, pois reduz significativamente o risco de acidentes, além de melhorar a fluidez do espaço.


Revista Contramarco - Acidentes com guarda-corpo também podem acontecer. Indique as normas técnicas que devem ser seguidas para este elemento, citando altura e materiais indicados (no caso do vidro, informe qual o modelo ideal), entre outras características.


Banheiro claro com banheira e box de vidro
Foto: Shutterstock

Bruno Moraes - A norma técnica NBR 14.718 — Guarda-corpos para edificação determina que o guarda-corpo deve ter pelo menos 1,10 m de altura. O que eu indico para os meus clientes é o uso do vidro temperado. Quando o modelo temperado quebra, forma pedaços de vidro mais arredondados e não formam aquelas peças pontiagudas e cortantes, como o vidro comum. 


Então, eu trabalho com vidro temperado em box de banheiro, em cobertura de vidro e em guarda-corpo. Mas eu não utilizo só o temperado, eu também aconselho fazer temperado e laminado, porque quando o vidro laminado quebra, ele tem uma lâmina, uma película, que além dele fazer as peças mais arredondadas, segura os pedaços de vidro como se fosse um Insulfilm de carro, 90% praticamente vai ficar no próprio local onde quebrou, evitando que caiam pedaços de vidro embaixo, no caso do guarda-corpo.


Em apartamentos ou casas que têm janelas altas e se tem criança ou um idoso com Alzheimer, por exemplo, ou até mesmo casos agravados de depressão, é necessário instalar uma tela de proteção sempre. Não é porque a norma do guarda-corpo fala que tem que ter o guarda-corpo de 1,10 m que você está seguro. A gente precisa analisar todos os riscos.


Revista Contramarco - Acrescente outras informações sobre o tema que não foram abordadas nas questões acima.


Arquiteto Bruno Moraes, à frente do escritório BMA Studio

Bruno Moraes - Só para encerrar, quero ressaltar a automação. Tem muita gente que fala que automação é ruim e que atrapalha, no sentido de muitas configurações e não saber lidar, principalmente em casas com idosos, mas é preciso usar a automação a nosso favor. Igual o exemplo que eu comentei sobre abrir a porta e o sistema disparar e acionar a câmera mostrando quem entrou e saiu, também é possível colocar uma fechadura de controle de acesso para saber que horas a pessoa saiu e entrou. Há empreendimentos só para idosos, em caso de acidentes, você tem botoeira para acionar e chamar a emergência ou chamar seu vizinho.


Hoje em dia, uma automação dentro de casa já configura, liga a sua TV e liga a iluminação, por exemplo. Com fechaduras eletrônicas, por exemplo, é possível liberar o acesso remotamente e, em casos de emergência, permitir a entrada de familiares ou uma rede de apoio. Sensores e câmeras, que podem ser acessados à distância, permitem monitorar o uso de eletrodomésticos, verificar vazamentos de gás ou conferir se o aquecedor foi desligado. Então, é interessante a gente pensar não só na escolha do piso, na altura do guarda-corpo ou na cor do móvel, a gente pode pensar em usar a tecnologia ao nosso favor como um artefato para minimizar acidentes dentro das residências.


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