*Por Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro, engenheiro civil, professor e pesquisador no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sócio da ENE Consultores e palestrante em eventos do setor
Quando especificamos as janelas em um projeto, buscamos aberturas e transparência na fachada, permitindo o contato visual das pessoas com o exterior, o acesso à luz natural e à ventilação. No meio do processo, escolhemos esquadrias e vidros para garantir bons níveis de conforto ambiental – térmico, lumínico e acústico – e composição estética na fachada.
O impacto no consumo de energia é consequência, seja pelo aumento na carga térmica devido à insolação, resultando em aumento na demanda de climatização, ou no sentido contrário, a redução no uso do ar-condicionado devido ao aproveitamento da ventilação natural. Adicionalmente, o acesso à luz natural traz como benefício a redução no consumo de eletricidade em iluminação artificial. A eficiência energética da fachada é um requisito, mas não o objetivo primordial das janelas. Assim, para atingir determinadas funções, é possível que haja algum efeito no uso de energia da edificação.
Quando falamos no desempenho energético de edificações, as discussões sempre recaem sobre a envoltória, o projeto arquitetônico. Dentro do Comitê Brasileiro da Construção Civil (CB-002) da ABNT, está em desenvolvimento a Norma de Desempenho para as edificações não residenciais. Seria uma versão da NBR 15575 — Edificações Habitacionais voltada aos edifícios comerciais e de serviços. Nesse contexto, as aberturas têm papel preponderante nos climas brasileiros. Se tivermos uma norma que estabeleça os padrões mínimos de desempenho térmico de uma fachada, então qual seria a área de abertura ideal ou mínima necessária?
No Brasil, muitos municípios dispõem de códigos de obras que estabelecem áreas mínimas de abertura por cômodo como uma fração da área de piso. Mas o que nunca se discute é: de onde vieram tais valores? Por exemplo, alguns códigos estabelecem a necessidade de janelas que representem 1/6 (16,7%) da área de piso. Outros falam em 1/8 (12,5%), ou até 1/5 (20%). Qual o valor ideal afinal? Será que esses requisitos necessitam de ajustes? Quais indicadores deveriam ser utilizados para avaliar a qualidade do ambiente interno? Seriam horas de sol por ano, trocas de ar por ventilação natural, temperatura máxima, horas de conforto térmico? Talvez a especificação por desempenho seja mais eficaz do que regras prescritivas de projeto. Porém, o projeto guiado por desempenho deve adotar procedimentos claros e mecanismos precisos para garantir a aplicação em todo o país.
A NBR 15575 “inaugurou” a especificação por desempenho, avaliado por meio de simulação energética computacional. Assim, pode-se evitar a simples prescrição de uma fração de área de abertura por área de piso, desde que o ambiente se enquadre em uma faixa de temperatura aceitável. A estimativa de temperatura interna ao longo do ano é feita por simulação computacional. Porém, vale lembrar que o processo de simulação energética ainda não é prática comum nos escritórios de arquitetura, sendo aplicado apenas em situações em que o empreendimento busca certificação ambiental, como LEED, AQUA ou etiquetagem do Procel. Seria necessária uma mudança radical na cultura de projetos, da mesma forma que ocorreu com o projeto estrutural, para o qual atualmente é inviável a elaboração sem o uso de ferramentas de cálculo computacional.
O setor vidreiro – por meio de representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro) e a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), CB-248 – tem atuado ativamente nos trabalhos de desenvolvimento da norma de desempenho, buscando estabelecer regras para especificação de vidros e esquadrias com foco no conforto dos ocupantes e consequente uso racional de energia para iluminação e climatização.
O desafio é resumir os requisitos em poucas tabelas e gráficos, considerando um país de dimensões tão extensas e contextos climáticos tão diferentes como o Brasil. Os estudos andam evoluindo e já se discute a definição de requisitos de desempenho mínimo de esquadrias e vidros em função do tipo de edificação, orientação solar da fachada e elementos de sombreamento existentes. Assim, fachadas voltadas às orientações solares e climas mais sujeitos a insolação intensa e altas temperaturas teriam a necessidade de incorporar esquadrias mais eficientes. À medida que sejam adotadas maiores áreas de aberturas, vidros ainda mais eficientes seriam exigidos.
Os trabalhos continuam e todo o setor está convidado a participar! A inscrição no grupo de trabalho de desenvolvimento da norma pode ser feita por e-mail para a secretaria do CB-002 (cb002@sindusconsp.com.br).
*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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