*Por Fernando Simon Westphal
Quando falamos em eficiência energética nas edificações, o projeto das fachadas recebe atenção na escolha dos materiais, nos elementos de vedação opacos (paredes e coberturas) e transparentes. Esses últimos correspondem às esquadrias e estruturas em pele de vidro e nesses elementos a busca por maior eficiência concentra-se no tipo de vidro e dispositivos de proteção solar. Evidentemente, o padrão de abertura das esquadrias também é importante, pois pode permitir um bom aproveitamento da ventilação natural, que é desejável em todo o território brasileiro, mas nem sempre é fácil de ser incorporada nos projetos de edificações comerciais ou de serviços.
Mas outro quesito que vem ganhando espaço nas pranchetas de projeto e discussão acerca da qualidade do ambiente construído é o acesso visual ao exterior e contato com a luz natural. Um estudo recente, publicado em meados de 2022 pelo Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), da Califórnia, referência em pesquisas sobre vidros e esquadrias, aponta os próximos passos em pesquisa e inovação sobre esses dois critérios de projeto.
Os pesquisadores trazem uma série de referências científicas de outros estudos que confirmam a influência positiva do contato visual com o exterior sobre a saúde das pessoas. Não apenas por conta do ciclo circadiano, ou seja, nossa necessidade fisiológica de contato com os ciclos naturais de dia e noite, mas também devido aos benefícios ainda pouco explicados sobre o contato visual com paisagens agradáveis. Algumas pesquisas vão mais fundo e arriscam a buscar a definição matemática de uma “vista agradável”, relacionando fração de área verde, porção de céu e de cidade que estão contempladas numa área visível a um posto de trabalho em um escritório, por exemplo. No meio do caminho, entre o ambiente de trabalho e o exterior, encontramos as esquadrias e seus elementos de proteção solar e controle de ofuscamento.
Quem dera o contato visual com o exterior e acesso à luz natural com qualidade fossem alcançados apenas com a instalação de uma janela com vidro na fachada. No passado, isso foi uma grande revolução na arquitetura. Depois, com o advento da energia elétrica, o dimensionamento das aberturas nas fachadas passou a ganhar atenção como uma estratégia para minimizar o uso de iluminação artificial. Atualmente, com componentes de iluminação do tipo LED, de baixa potência instalada e consumo de energia reduzido, o aproveitamento da luz natural volta aos projetos como uma estratégia para promover o bem-estar e a produtividade.
Hoje, com todo o conhecimento científico acerca das questões apontadas acima, sabemos que o aproveitamento da luz com qualidade requer boa reprodução de cores, boa distribuição dos níveis de iluminação e controle de ofuscamento. Tudo isso dificilmente será alcançado com uma “simples” janela. A especificação de vidros de controle solar permite melhor balanceamento de luz e calor, especialmente necessário em climas quentes. Já falamos bastante sobre isso nesta coluna. Mas o comportamento do ambiente externo é dinâmico. Então o uso de vidros de controle solar ou elementos de proteção fixos têm seus potenciais limitados. O que se observa é uma tendência para a busca por soluções de automação das fachadas, seja por controle das propriedades ópticas dos vidros, com o uso de vidros eletrocrômicos, ou pela automação do movimento de persianas e cortinas. Os autores da pesquisa citada acima colocam um desafio interessante: como podem os sistemas de ar-condicionado terem evoluído tanto em automação nas últimas décadas, sendo sistemas altamente complexos, e uma simples janela e sua cortina continuam dependendo do controle manual do usuário ao longo do dia?
Referência bibliográfica
LEE, Eleanor S.; MATUSIAK, Barbara Szybinska; MORODER, David Geisler; SELKOWITZ, Stephen E., HESCHONG, Lisa. Advocating for view and daylight in buildings: Next steps, Energy and Buildings, Volume 265, 2022, 112079, ISSN 0378-7788, https://doi.org/10.1016/j.enbuild.2022.112079.
*Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade dos respectivos autores e podem não interpretar a opinião da revista. A publicação tem o objetivo de estimular o debate e de refletir as diversas tendências do mercado, com foco na evolução da indústria de esquadrias e vidro.
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