Com pilares esculturais e lajes suspensas, a Casa Xingu transforma construção em obra de arte por meio de estruturas que unem grandeza e singularidade
A Casa Xingu, projetada pela Tetro Arquitetura e construída pela Hauz, é um exemplo impressionante de arquitetura que harmoniza inovação estrutural e conexão com a natureza. Localizada em Nova Lima, a casa foi pensada a partir das características únicas do terreno e das aspirações do cliente, resultando em uma obra que se destaca pela ousadia de seu design e pela integração com a paisagem ao redor.
Segundo o arquiteto Carlos Maia, a inspiração para o projeto veio do próprio terreno e do cliente. “Naquele lugar já existia uma construção antiga com muros de pedra e até uma gruta. Ficamos inspirados pela vegetação exuberante do fundo do terreno e pela vista das montanhas. Queríamos uma casa em contato com a natureza, mas que também buscasse a vista,” explica. Com essa premissa, a casa foi projetada com um formato de boomerang, tocando o terreno em três “pernas”: a sala e o escritório, que se conectam diretamente à mata ao fundo, e o quarto principal, suspenso, projetando-se em direção à vista das montanhas.
A paisagem de Nova Lima influenciou diretamente o conceito da Casa Xingu. A escolha de manter a vegetação nativa e os muros de pedra, além de projetar os ambientes em direção às montanhas, cria uma sensação de imersão na natureza. A casa é cercada por árvores que foram mantidas durante a construção, reforçando a conexão com o ecossistema local.
Elementos específicos foram pensados para potencializar essa experiência. A casa é toda envidraçada, proporcionando uma visão constante da paisagem e uma interação direta com a luz natural. Os espelhos d’água e a vegetação presente nos espaços externos e internos trazem a natureza para dentro do ambiente, enquanto a área que conecta a casa ao SPA é propositalmente aberta, sem proteção contra chuva, acentuando a experiência de estar em contato direto com o entorno.
Um dos aspectos mais inovadores do projeto está nos pilares da Casa Xingu. Desenhados em formas triangulares, os seis pilares que sustentam a casa são verdadeiras esculturas, integrando uso interno, como banheiros, elevadores e escadas. Tais pilares foram um grande desafio, tanto para os arquitetos quanto para a Hauz, responsável pela execução da obra. “Normalmente, uma estrutura convencional tem diversos pilares em vãos de 6 metros. Na Casa Xingu, temos vãos de mais de 10 metros com apenas seis pilares, que foram concretados in loco e possuem geometria complexa,” destaca o arquiteto Carlos Maia.
Vinícius Leal, engenheiro da Hauz, complementa: “Os pilares aparentes em concreto orgânico são a espinha dorsal da casa. Para concretá-los, foi necessário um estudo aprofundado de geometria e formas, algo que nunca havia sido feito no Brasil. Além disso, a laje foi outro grande desafio, pois precisava ser concretada em um único dia, o que exigiu um planejamento rigoroso.”
A COMPLEXIDADE TÉCNICA E A ESCALA MONUMENTAL DO PROJETO
A construção da Casa Xingu destaca-se pela escala impressionante e a complexidade envolvida. Com 800m² suspensos em seis pilares de concreto aparente com formato orgânico, o projeto exigiu um planejamento meticuloso e soluções inovadoras, sendo a primeira vez no Brasil que esse tipo de acabamento foi utilizado nos pilares. Além disso, a concretagem da laje foi um desafio à parte: realizada em apenas um dia, utilizando 67 caminhões de concreto, duas bombas lança e mais de 100 profissionais, entre eletricistas, bombeiros e armadores, coordenados de maneira precisa. O lançamento do concreto começou às 6h e precisava ser concluído no mesmo dia, sem margem para erro, já que qualquer atraso poderia exigir a demolição da estrutura para recomeçar. A laje, feita de concreto protendido com cabos de aço, não permitia reparos posteriores, ou seja, eventuais problemas, como estourar um tubo de esgoto ou soltar as mangueiras de elétrica, poderiam comprometer completamente o sistema de banheiro ou a instalação elétrica da casa.
Outro destaque foi o processo minucioso de concretagem, que envolveu uma equipe técnica dedicada à avaliação de cada caminhão de concreto, garantindo que o material atendesse a padrões rigorosos de elasticidade e resistência. A estrutura, sustentada por andaimes robustos, demandou também uma paginação detalhada da laje, desenhada pela arquiteta Débora da Tetro. Com curvas esbeltas e uma técnica sofisticada de execução, o resultado final atingiu a perfeição desejada. Todo o processo evidenciou a grandiosidade do projeto, que utilizou mais de 40 toneladas de aço e sete toneladas de cordoalha por laje, consolidando-se como um exemplo de inovação e excelência na construção civil de luxo.
A Casa Xingu também se destaca pelos materiais utilizados em sua construção. Com 800 m², a residência é composta por concreto aparente, vidro e mármore. A escolha de materiais naturais, como os três tipos de mármore – perlino bianco, travertino titanium e nero michelangelo – reforça o conceito de integração com a natureza, enquanto o concreto aparente dá ao projeto um toque de robustez e modernidade.
A preservação do terreno original foi uma das preocupações do projeto. “Mantivemos os muros de pedra, as árvores e os platôs existentes, ocupando os espaços vazios entre as árvores para manter a natureza local,” ressalta o arquiteto. Essa abordagem não apenas minimizou o impacto ambiental, mas também reforçou a sensação de que a residência flutua no meio da paisagem, fundindo-se com o ambiente natural ao redor.
A Casa Xingu representa a busca por uma arquitetura inovadora, que valoriza a paisagem e proporciona uma experiência única de conexão com a natureza, sem abrir mão de elementos sofisticados e soluções construtivas arrojadas. O resultado é uma obra que se destaca tanto pela complexidade técnica quanto pela beleza e harmonia com o seu entorno.
Fonte: Hauz
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