Parte da ação que planeja devolver a cidade aos pedestres, o projeto aspira uma ampla praça pública para implementação de diversos usos
O bairro da Liberdade, um dos locais mais vibrantes e turísticos da cidade de São Paulo, está prestes a presenciar mais um marco em sua trajetória: a construção da Esplanada da Liberdade, um projeto urbanístico que prevê a criação de um complexo sociocultural com teatro, áreas comerciais, espaços de convivência e um memorial étnico-cultural que homenageia as diversas comunidades que ajudaram a moldar a identidade da capital paulista.
Esse ambicioso projeto, que integra o plano de revitalização do centro da cidade, é fruto de uma Parceria Público-Privada (PPP) entre a Prefeitura de São Paulo e a iniciativa privada. A pedido do órgão municipal, múltiplos escritórios de arquitetura nacionais e internacionais enviaram propostas de estudos elaborados, sendo escolhida para a consulta pública o conteúdo da Effect Arquitetura, que atuou ativamente na restauração do Museu da Vacina e Biblioteca do Butantan, além das reformas do Zoológico e dos parques Villa-Lobos e Candido Portinari.
O Procedimento de Manifestação de Interesse, mais conhecido como PMI, é um processo administrativo que permite que os órgãos públicos solicitem estudos para projetos de interesse social, contando com a ajuda da iniciativa privada. Esses estudos de viabilidade tem a finalidade de subsidiar a administração pública com informações para estruturação de concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs).
POR DENTRO DO PROJETO
Situada no coração do bairro da Liberdade, a Esplanada será erguida sobre três lajes que conectarão quatro importantes viadutos da região: o Shuhei, o Mie Ken, o Cidade de Osaka e o Guilherme de Almeida. Esses viadutos, que cortam o bairro, serão transformados em plataformas de integração entre o espaço urbano e cultural da cidade, trazendo à tona a história e a importância multicultural da região.
Segundo Erick Tonin e Celso Grion, especialistas em planejamento urbano e sócios à frente da Effect Arquitetura, um dos pontos centrais da proposta é a reconstrução do emblemático Teatro São Paulo, demolido nos anos de 1970 para dar lugar à Ligação Leste-Oeste, um dos mais importantes eixos viários da capital. A nova versão do teatro promete ser um ponto de encontro cultural onde apresentações teatrais, musicais e eventos artísticos poderão acontecer, resgatando a tradição de um dos mais icônicos palcos da cidade.
“O novo teatro será uma homenagem ao edifício original e que dialoga com o passado por meio do uso de códigos cromáticos e formas simbólicas que remetem aos diversos povos e culturas que formaram São Paulo”, afirma Erick Tonin.
Além dele, a Esplanada contará com praças públicas, área comercial e estacionamento que atenderá às altas demandas de circulação da região. O projeto ainda prevê a construção de um edifício corporativo e um rooftop, reforçando a integração entre cultura, lazer e negócios na mesma área.
BENEFÍCIOS PARA A POPULAÇÃO
Dentre os objetivos da Esplanada da Liberdade, de acordo com Celso Grion, está o de devolver à população um espaço que, no passado, foi suprimido pela expansão viária e criação da Radial Leste, que cortou o bairro, resultando na perda de praças e outros edifícios históricos. Além disso, a proposta busca não apenas beneficiar os moradores do bairro, mas também desafogar as congestionadas ruas da Liberdade que já não conseguem acomodar o crescente fluxo de comércios, pessoas e atividades, ameaçando perder seus atrativos por conta da falta de organização urbana e infraestrutura adequada.
“Essa é uma importante intervenção urbana para a cidade, pois o centro de São Paulo vem passando por um processo de decadência com problemas relacionados à segurança, infraestrutura e perda de espaços públicos de qualidade. A construção da nossa proposta da Esplanada da Liberdade surge como uma resposta a essa demanda, oferecendo um projeto que resgata a história e foca em um futuro mais inclusivo”, ressaltam os especialistas da Effect.
O projeto como um todo traz referências das diversas culturas e povos que ajudaram a formar a metrópole que hoje conhecemos. Desde o paisagismo, com a adoção de espécies nativas da mata atlântica, o desenho do piso das praças que retoma e demarca o antigo caminho do mar que por ali passava, a escolha dos materiais e cores comuns às diferentes culturas, como a cobertura escultórica em madeira, e com a incorporação de um equipamento cultural de memória, todos esses pontos tornam o projeto uma constituição única de diversidade e inclusão devido ao potencial de contar a história dos povos que originaram e formam, até hoje, o bairro e a cidade.
O projeto também propõe uma revitalização econômica da região central de São Paulo. A área comercial atrairá investidores e empreendedores, gerando emprego e renda para a população, e o novo espaço será um ponto de encontro para o comércio local, fortalecendo as pequenas e médias empresas que já atuam na região. “Em termos de urbanização, o projeto é uma oportunidade única de modernizar a infraestrutura do bairro e criar um ícone para a cidade”, reflete Celso Grion.
Com um planejamento urbano voltado para a sustentabilidade, a Esplanada deverá incluir soluções de melhorias da infraestrutura, da eficiência hídrica e da gestão da água com soluções de drenagem e com a adoção de Infraestruturas verdes. A diversificação da matriz hídrica com a adoção de fontes alternativas de água não potável – água de chuva, drenagem de fundação e água de reuso dos esgotos sanitários, incluindo a macro e micro setorização dos espaços –, serão um grande diferencial. Ademais, também estão previstas soluções de mobilidade, acessibilidade e espaços verdes que melhorem a qualidade de vida dos moradores e transeuntes, bem como a integração de pedestres e ciclistas, também estão considerados como meios de incentivar o uso de transportes não poluentes com vistas à promover um ambiente mais saudável para todos.
UMA NOVA ERA PARA A LIBERDADE
A conclusão do projeto promete transformar a Liberdade em um novo local de convergência para paulistanos, residentes de outros estados e turistas, mostrando que, mesmo em meio ao caos urbano, é possível engendrar espaços de convivência e celebração da história coletiva da cidade, destacando a contribuição de indígenas, africanos escravizados, portugueses, italianos, japoneses e outros imigrantes que influenciaram a cultura e urbanização de São Paulo.
A proposta da Effect Arquitetura se fundamenta em três pilares de ‘Liberdade’: o direito à existência, que preserva as culturas originárias e suas rotas ancestrais; o direito à vida, igualdade e independência, homenageando a comunidade negra e sua luta por liberdade com espaços de memória material e imaterial; e o direito de ir e vir, ao celebrar a importância dos imigrantes, especialmente das culturas orientais, com elementos arquitetônicos que evocam suas tradições. “Essas colunas estão refletidas na arquitetura, paisagismo e escolha de materiais sustentáveis, como madeira e barro, que evocam as tradições já mencionadas, bem como a simbologia de tradições italianas fundidas nos espaços de convivência”, pontuam os sócios.
Atualmente aprovada pela Câmara de São Paulo, a proposta do projeto está em fase de consulta pública, período em que o município recebe sugestões e recomendações tanto da população, quanto de empresas interessadas na concessão. O início das obras está previsto para 2025.
“A participação ativa dos cidadãos nessa etapa é fundamental para garantir que os elementos identitários e históricos sejam adequadamente representados. Com a opinião das populações locais e a evolução do projeto ao longo de suas diferentes fases, esperamos que a esplanada se transforme num símbolo de união e diversidade, reafirmando São Paulo como uma cidade que honra suas raízes e celebra sua pluralidade”, acreditam Erick e Celso.
Fonte: Effect Arquitetura/Dc33 Comunicação
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